DIA 3
Depois do show do Terry Reid, consegui o milagre de
acordar cedo novamente (7 da manhã). Na verdade isso acabou virando algo
constante em Londres. A primeira semana foi toda madrugando - o que foi ótimo.
Iniciei o dia com os exercícios e dessa vez resolvi fazer algo tipicamente
british: comer o English Breakfast. Péssima escolha!rs
Fui num lugar que no Rio seria facilmente
classificado como pé-sujo (botequim em SP). Como eu queria algo “roots”, senti
que tinha alcançado o objetivo. O típico café da manhã britânico contém, num
único prato, aproximadamente 5000 calorias! O melhor jeito de começar o dia (e
terminá-lo com a aorta entupida rs). Eles tinham várias opções. A mais
tradicional vem com um ovo frito, uma lingüiça, um bacon (que é diferente do nosso,
parece mais um presunto), black pudding (uma lingüiça feita de sangue – algo
como o nosso chouriço), um feijão cozido no molho de tomate e muita batata
frita. Eu troquei o Black pudding por um pão e encarei o desafio. Não é ruim,
mas é algo muito pesado para se comer tão cedo. Seria quase como “bater” uma
feijoada às oito da matina. Sem exagero! (nota final: ao terminar minha
refeição, eis que entram uns cinco operários de uma obra que tava rolando na
rua – conclusão: comi no PF da Inglaterra rs)
De lá parti para a primeira escala de algo que já
estava na minha cabeça desde o Brasil: os museus! Peguei o Tube e desci na
estação de South Kensington, que fica no bairro de Chelsea (o mais nobre de
Londres). Dos quatro principais museus de Londres, três ficam ali, lado a
lado. São eles: o Museu de História Natural, o Victoria & Albert Royal
Museum (artes) e o Museu de Ciências. Nesse primeiro dia, encarei apenas o
Museu de História Natural. Absolutamente SENSACIONAL!
Todos os museus de Londres tem a entrada gratuita.
Eles aceitam donativos e tem em vários pontos urnas de coleta de moedas e
notas, mas não se paga ingresso (depois descobriria que em nenhuma outra cidade
que estive é assim). Achei isso um incentivo à cultura incrível. Mesmo sabendo
que grande parte do acervo dos museus foi “roubado” de várias partes do mundo,
o simples fato de estarem expostos e sem custos me parece uma “compensação”
(sei que não é, mas faz você se sentir um pouco melhor rs).
Fico até sem saber como descrever... A edificação era
um palácio que se converteu em museu. Dentro do prédio basicamente se expõe
fósseis e reproduções em tamanho real da grande maioria dos animais e até
biomas que já passaram pelo planeta Terra. Logo no saguão de entrada, um
esqueleto completo de um Brontossauro. No restante, coisas incríveis como o
fóssil de uma cabeça de mamute, a ala dos insetos (a preferida das crianças),
uma baleia azul em tamanho real (!) e, provavelmente a mais famosa, a ala dos
dinossauros.
Por mais que eu tente, não há como relatar o
impacto de cada coisa que vi lá. Achei que tinha pouco material da América do
Sul (Amazônia principalmente), mas no resto dos 24 territórios à sua escolha,
era absurdamente completo. Cheguei umas 10 da manhã e saí de lá quase 2 da
tarde. E tenho certeza que não vi tudo!rs
Terminando o tour, fui encontrar a Krsyzia. Krsyzia
é uma polonesa que eu conheci no Rio no início do ano e que tinha combinado de me encontrar quando eu estivesse em Londres. Marcamos um almoço em Oxford
Circus (que faz parte daqueles pontos super famosos que relatei no primeiro dia).
Como ela mora em Londres há 10 anos, foi muito legal ouvir de um europeu as
impressões sobre a mudança de um país para outro (no fim das contas, não é tão
diferente de um brasileiro). Comemos uma massa e ficamos até as 18hs lá. E eu
parti de novo pra encontrar a Camila, que tinha encerrado seu expediente.
Dessa vez, tínhamos combinado de jantar num pub que tem
um anexo onde servem comida tailandesa (sim, parece tosco, mas não é rs). Ela
levou dois colegas de trabalho: o Jason (que eu já tinha conhecido no Rio e já
era brother) e a Jessica (uma mexicana louca e gente finíssima). Ambos são
personal trainers na academia que a Camila trabalha. Aliás, vale a pena um
parágrafo para falar sobre isso.
A KX Club fica no bairro de Chelsea. Atende a classe AAA de
Londres. Só a matrícula custa 3000 libras (em torno de 9000 reais – fora a mensalidade,
que deve ser em torno do mesmo). Cami me disse que quem malha lá quando está em
Londres é: Beyoncé, Cameron Diaz, Uma Thurman, entre outros. A namorada do Ron
Wood (guitarrista do Rolling Stones) também é cliente e virou amiga da Camila.
Até convidou-a para a festa de aniversário dele num castelo nos arredores da
cidade.
Voltando ao Pub. Ficava no lugar chamado Notting Hill. E
confesso que não tinha nada a ver com o que vi no filme!rs Era quase noite, chovendo
(ok, chovia todo dia, isso não significa nada) e fazia um frio... O Pub em si
era bem legal. E o local que servia a comida tailandesa era realmente um
“anexo”. Pequeno, mas bem confortável.
Nunca tinha provado a comida Thai (Cami preparou um prato quando
esteve na minha casa em 2011, mas ela mesma admitiu que faltaram um monte de
ingredientes...então o prato que ela preparou acabou sendo uma adaptação).
Olhando o cardápio, vi que os pratos eram todos classificados com uma, duas ou
três pimentinhas indicando o quão picantes eram. Procurei um prato que tivesse
“zero” pimentinha, mas não encontrei. Então escolhi um que, de acordo com a
Camila, era o mesmo que ela tinha feito na minha casa, só que com todos os
ingredientes. Basicamente era um ensopado de camarão cheio de condimentos
(gengibre, pimenta, curry, capim-limão, leite de coco e um monte de coisa que
não identifiquei), com arroz branco de acompanhamento. Lembrava um pouco os
pratos da Bahia, principalmente pelo leite de coco. Ah, e tinha só uma
pimentinha, então era tranquilo né? NÃO!!! Aquele troço na boca parecia como se
eu estivesse mastigando dez balas Halls e bebendo um litro de água gelada! Acho
que nunca provei algo tão cheio de pimenta até hoje! E me fez pensar: se uma
pimentinha é assim, imagina três! Foi até embaraçoso, pois todos já tinham
terminado suas refeições e eu lá, lutando bravamente e ignorando a Camila me
dizendo “tudo bem, não precisa comer”rs Rídiculo... (só uma coisa: quem mistura
pimenta com gengibre? Acho que a base da culinária tailandesa é a vingança).
Quando
terminamos partimos para ver o show da Cleo Sol num club bem perto do pub. A Cleo
é uma cantora de Rn’B inglesa e de quem assistimos uns vídeos na noite anterior
caçando o que fazer. Chegando lá, não conseguimos entrar pois eles exigiam
documento de identidade (realmente pareciam haver muitos menores na fila) e nem
eu nem a Cami estávamos com os nossos. Dessa vez não rolou.
Mas
como nem tudo está perdido, alguém lembrou de um piano bar que tinha ali perto
e partimos. Atmosfera simples, gente bêbada, músico errando e ninguém
percebendo...foi uma noite legal.rs
Quando era quase meia-noite decidimos voltar (o Tube fecha 00:30 – algumas linhas fecham antes) e declaramos encerrados os trabalhos. Sensação de dever cumprido!
Nas fotos: o English Breakfast (com o black pudding), um fóssil, a baleia azul em tamanho real e Oxford Circus.







