domingo, 27 de janeiro de 2013

Cidade Livre do Desapego


Graças a Deus (e ao paracetamol) eu acordei bem melhor na segunda! Depois de um domingo acabado, eu estava bem tranquilo. Sem febre, sem dor no corpo, apenas um pouco resfriado, mas nada demais. O tempo em Copenhagen ainda estava daquele jeito: pouco sol e bastante vento. Dormi até tarde (ainda estava me recuperando, dá um desconto! rs) e quando levantei eu e Sara pegamos as bikes e fomos andar por aí.

Sara desde o início tinha me dito que queria que eu conhecesse a cidade livre de Christiania. Vai aqui uma breve explicação do que é Christiania: no fim dos anos 60, uma enorme base militar dentro de Copenhagen foi praticamente desocupada pelo exército. Era uma região muito arborizada e cheia de galpões e espaços amplos para convivência. Nessa época havia muita reclamação pela falta de parques e espaços comuns na cidade. Foi aí que cidadãos civis (a maioria adeptos da filosofia hippie) resolveram ocupar o local e torna-lo útil. Entraram nas casas que estavam vazias, construíram outras sem arquitetos ou algo do tipo e fundaram a “Freetown of Christiania”. Desde o início eles se entendiam como pessoas livres num território autônomo, que não tinha ligação política, tributária ou administrativa com a Dinamarca. Muitos eram adeptos de maconha e derivados, e plantavam o que consumiam de maneira aberta. A ideia era criar uma sociedade mais igualitária e desapegada. Se quiserem saber mais, procurem no google pois vale muito à pena.

Toda essa história é interessante, mas depois de muito tempo e com pessoas que hoje tem muito pouco ou nada a ver com quem idealizou essa comunidade, a impressão que tive de Christiania não foi das melhores. Um lugar um tanto sujo, com uma praça central (onde acontece a maior parte do comércio, artesanato e venda de drogas – lá isso é liberado e tolerado pelo governo) que mais parecia uma favela. Algo me diz que não era daquele jeito há quarenta anos, mas era como estava. Vi uma briga de cachorros bem violenta (e várias pessoas ao redor meio que curtindo!), e eu não sintonizei a energia do lugar. Quando nos afastamos desse “centro” e fomos caminhando pelas ruas por dentro da vila (o local é uma vila militar, realmente muito verde e com cara total de natureza) eu passei a curtir muito mais. Me lembrou um pouco as ruas de Penedo no Rio de Janeiro, mas um pouco mais autêntica, já que quase tudo era feito pelo próprios moradores. Tinham padrões estéticos bem pouco convencionais e pinturas com cores bem chamativas.

Saímos de lá (Sara ficou um pouco frustrada por ver que eu não me impressionei tanto com Christiania) e decidimos comer algo. Demos uma volta de bicicleta numa região agradável, próxima a um dos canais que corta a cidade (mas este era bem pequeno). Nessa hora começou uma pequena chuva, o que fez eu me irritar um pouco com a Sara pois ela estava fazendo muito corpo mole e eu não podia ficar exposto àquele tipo de clima!rs Mas enfim chegamos num café onde eu acabei por comer um hamburger (mas daqueles tipo "homemade"). Eu e Sarita papeamos mais um pouco e já estava praticamente na hora de ir pro aeroporto. O vôo era 21:00 ( e eu achei que fosse 21:30hs) e ainda estava claro...

Voltamos ao apê de Sara, e de lá para a estação de metrô. Dessa vez ela não foi comigo, já que o metrô deixa dentro do aeroporto. Cheguei super tranquilo, às 20:25 no guichê e quase não tinha fila. Pensei: que sorte!rs Quando o rapaz me viu e eu lhe informei que estava no vôo para Barcelona ele me deu um esporro de leve, informou que se eu chegasse 30 segundos depois ele já teria fechado o vôo. Mas fez meu check in e eu fui embarcar. Tá vendo? Que sorte!rs

Atravessei o aeroporto de Copenhagen com uma certa pressa (faltava 30 minutos para o horário de decolagem do vôo), e percebi que qualquer aeroporto lá é incrível e enorme! Meu embarque era no portão 90 e poucos... (as companhias low cost sempre ficam nos pontos mais afastados). Deu tempo de trocar uma nota de 500 Euros que eu tinha na casa de câmbio (trocar mesmo, por cinco de 100 rs) e embarquei numa boa. O vôo, mais uma vez, estava completamente lotado e dessa vez fui com uma empresa espanhola, a Vueling (que tinha uma aeromoça pela qual fiquei apaixonado! De verdade! Queria o telefone dela mas ela ameaçou chamar a segurança aí eu recuei... rs).

Vôo tranquilo, aproximadamente duas horas e meia...fui conversando com uma mulher dinamarquesa um pouco mais velha que já tinha vindo ao Brasil e isso ajudou a fazer o tempo andar mais rápido. Pousamos tarde em Barcelona - por volta de meia noite - e de cara já senti a primeira grande diferença: o calor! Fui andando pelo saguão inteiro do aeroporto (também muito bom) e a cada passo que eu dava ia notando outra coisa: não tem imigração! Bom, na verdade deve ter sim, mas o vôo que eu peguei não passou por nenhum controle de imigração. Achei isso estranho! Amigos me explicaram que foi pelo fato de ser um vôo entre dois países da Comunidade Europeia, só que de Londres para Copenhagen e do Porto para Londres eu tive que passar pelos fiscais... bom, foi estranho e é uma dica que eu dou aos brasileiros: se querem entrar na Espanha, façam-no por Barcelona!rs

Fui ao saguão e de lá desci até o estacionamento que é subterrâneo. Minha amiga Joyce (vizinha de bairro no RJ que estava morando em Barcelona fazendo um mestrado) já tinha me explicado que tinha um ônibus que me levaria direto à Plaza da Catalunya, onde ela estaria me esperando. Peguei o Bus e o trajeto foi bastante rápido...cerca de meia hora. Eu perceberia mais claramente isso no dia seguinte, mas Barcelona é uma cidade pequena territorialmente. Chega-se rápido a qualquer área da cidade. Cheguei na praça pouco depois de 1 da manhã. Lá estava a Joyce e o Markito, seu marido. Quando cheguei eles ficaram nitidamente aliviados, pois estavam preocupados e disseram que iriam me esperar só até 1:30.rs

Quando vi o Markito, à 1 da manhã, usando bermuda e havaianas, finalmente eu pensei: calor!!! Fazia 23 graus de madrugada, sensacional. Fomos andando e eu de cara percebi uma certa similaridade dos prédios e ruas com Buenos Aires (só que muito mais bonito e cuidado - apesar de amar a capital portenha). Chegamos no apê da Joyce, incrível! Era alugado pelo governo e ela tinha o direito de morar ali devido ao mestrado. Muito bem localizado, e com uma área ótima. Trocamos uma ideia e eu fui dormir às 5 da manhã. Detalhe: acordei às 8!rs Estava muito ansioso para ver a cidade de dia. Afinal, era Barcelona!

ps: a aeromoça não ameaçou chamar a segurança não hein! Eu a achei linda mas foi algo platônico!rs

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

INFLUENZA

Eu tinha vários planos para o domingo. Queria dar um pulo numa área bonita que fica fora da cidade onde tem um belo museu de artes. Depois Sara já tinha me intimado a acompanha-la em sua aula semanal de tango (vale aqui um parêntese: quando eu conheci a Sara através da Noemi, frequentávamos vários bailes de tango no Rio pois Noemi é uma apaixonada pela dança portenha. Acabou que a Sara também se apaixonou). Queria que eu dançasse com ela e coisa e tal.

Tudo isso foi por água abaixo pois na madrugada de sábado para domingo eu já tinha ido deitar me sentindo mal. Passei a madrugada inteira na merda e só no outro dia pela manhã consegui comprar um remédio. Estava me esforçando ao máximo para não incomodar a Sara, mas não teve jeito. Lá pelas 7 da manhã, pedi a ela que descesse e comprasse um paracetamol para mim. Sara ficou enrolando e me dando outros remédios (nem lembro o que era...). Só sei que depois de insitir muito com ela, acabou comprando o paracetamol para mim. A melhora foi lenta porém real. Só que eu estava ainda muito mal, com febre e dor no corpo. Sara foi à aula, voltou, e eu lá – deitado.

À noite consegui me levantar e fazer algo que era o mais próximo de uma canja (era uma sopa semi-pronta de saquinho de frango com macarrõezinhos). Depois disso me senti bem melhor e continuei descansando para o dia seguinte. Precisava melhorar, já que eu tinha perdido um dia inteiro de minha viagem. E no dia seguinte tinha um vôo para um lugar bem mais quente: Barcelona!

domingo, 18 de novembro de 2012

A Bruxa do Canal!


O sábado vinha cheio de atrações! E acabou sendo um dia muito bom mesmo. Como a Sara estava de folga, podemos aproveitar o dia fazendo algo juntos.
Nesse dia Sara tinha marcado de receber sua professora de tango para o almoço, uma turca que eu não lembro o nome. Sarita fez um penne com um molho à base de creme de leite e tomate. Na sobremesa uma torta com aqueles morangos da Dinamarca que eu nunca vi igual em nenhum lugar do mundo. Embora a refeição tenha sido ótima, a vibe estava meio pesada. A professora tinha terminado um relacionamento um tanto estranho (de acordo com suas palavras) e estava tendo problemas para aceitar isso. Desabafou bastante conosco...
De lá fomos à casa da Emanuela, uma italiana que está morando em Copenhagen por conta de um projeto de arquitetura de uma universidade local. Ela mora num quarto e sala bem legal que fica de frente a uma praça muito interessante, cheia de restaurantes e lojas. Emanuela disse que o apartamento é locado pela própria universidade (e tem mobília novíssima) e o custo é mínimo. Tudo naquele esquema de piso de assoalho bem característico de lá. Ficamos em sua casa vendo alguns vídeos de tango, conversando (e a professora desabafou um pouco mais rs) e partimos para uma volta pela ruas do centro – dessa vez sem a "coração partido".
Chegamos até uma torre, ponto turístico e que foi o primeiro observatório astronômico da Europa, inaugurada em 1588. Hoje ela é, além de observatório amador, um centro de artes e uma biblioteca. A subida é em caracol e tem uma parte que é um "quase museu" com objetos da época de sua inauguração. Só fiquei chateado que, no momento em que pisei no terraço, a chuva começou a cair...rs Mas deu pra ver um pouco do panorama da cidade. Copenhagen definitivamente é uma cidade de construções baixas e com um terreno quase que totalmente plano. É curioso ver uma cidade com aquela arquitetura do norte da Europa tão grande. Aqui no Brasil as cidades que conheci com essa característica sempre foram pequenas.
Descendo de lá, continuamos nossa volta pelo centro. A chuva deu um tempo e fomos até a região de Nyhavn (um dos poucos nomes que lembro de lá). Essa foi a área com mais cara de Amsterdam que vi. Um canal cheio de barcos cercado de restaurantes e lojinhas...todo mundo ao ar livre aproveitando o tempo bom e o dia de São João. Sim, lá também se celebra São João, no mesmo dia 24 de junho. Só que obviamente as tradições deles são bem diferentes. Quando passamos por lá tinha uma banda de jazz tocando (muito boa por sinal) e todos os restaurantes estavam lotados. Seguimos caminhando até um canal maior, onde havia barcos de transporte de massa. Lá, na beira, tinha um restaurante enorme com um espaço na entrada onde estava rolando um baile de salsa ao ar livre. Achei bem curioso e interessante ao mesmo tempo.
De lá voltamos caminhando até Nyhavn (coisa de 5 minutos) e encontramos a Amina. Partimos para um biking tour e vi muitas coisas legais da cidade. Chegamos até o Palácio onde reside a Família Real dInamarquesa, um local bastante bonito e basicamente aberto. Bem diferente de Buckingham... Estava vazio (na verdade só tinha a gente rs) pois todos estavam na beira do canal principal para assistir as festividades de St. John.
Ao voltarmos ao canal, vimos uma movimentação intensa de gente. Amina me explicou que era para assistir a cerimônia da “Queima da Bruxa”. Pois é, é isso mesmo que você leu. Sabe daquelas histórias e filmes que vemos sobre a idade média onde mulheres tidas como bruxas eram queimadas na fogueira? Então, eles ainda fazem isso, só que com uma mulher de papelão. Mas eles ainda fazem isso!rs E detalhe: o local da queima fica em frente a um edifício bem dark que disseram ser um antigo presídio feminino. Ou seja, essa “queima” ainda tinha uma função intimidadora! As presas que se aproximavam da janela provavelmente pensavam: “Melhor andar na linha, senão eu posso ser a próxima”!rs
A cerimônia é bem simples. Tinha alguém fazendo um discurso no microfone (as meninas me disseram que era algo sobre o orgulho e a história da Dinamarca)... depois disso todos cantaram um hino (eu cheguei a pegar um papel com a letra) e no fim, acendia-se a fogueira e queimava-se a bruxa. O churrasco em si durava bem pouco, menos de cinco minutos eu acho...
Findada a cerimônia e finada a feiticeira, já estava começando a anoitecer – 22hs – e fomos a uma festa na parte nova da cidade. Pedalamos muito e dessa vez chegamos a um local com arquitetura bem moderna (mas todos os prédios com 5 andares no máximo – lembrou um pouco a Barra da Tijuca). Lá estava rolando uma festa de Hip Hop na beira do canal (sim, Copenhagen é rodeada de canais e tudo acontece perto de um deles) com uma fogueira acesa no meio, o que se mostrou bem providencial pois na medida que ia ficando mais escuro, ia aumentando o frio. Nós ficamos bem perto da fogueira e comemos um ensopado de carne que vinha num copo de plástico (estilo caldinho de feijão pé-sujo) acompanhado de um pão. Sentamos lá, aproveitando o calor durante bastante tempo, até que encheu o saco e fomos embora (eu já estava bem cansado). Pedalamos de volta no frio (coisa de 12,11 graus), passamos por uma área diferente da cidade e eu comecei a me sentir febril e com a garganta doendo, pouco antes de chegar em casa. Isso acabou sendo um mau sinal.
Nas fotos: O panorama de Copenhagen, o brasão da Torre, sede do banco dinamarquês no Centro da cidade, Nyhayn, o Palácio Real, a Opera House e a queima da bruxa.







sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Chã na Chuva é Picanha!


O terceiro dia de Dinamarca começou debaixo de muita água! Chuva e um frio que não condiz com a imagem que um brasileiro faz do verão. Mas eu não queria nem saber. Sara tinha saído cedo para trabalhar. Resolvi pegar a bike (toda molhada rs) e sair pedalando por aí, para conhecer um pouco mais.
O problema de pedalar no frio é que ao fazê-lo você bate de frente com um vento que parece te dar trocentas pontadas no peito. Independente de estar usando um casaco (e eu estava usando um que acreditava ser impermeável, mas que se mostrou uma esponja), o ar gelado penetra e te atinge em cheio.
Fui pela avenida Hans Christian Andersen e virei numa rua que não lembro o nome (olhei no Google maps e nada me pareceu familiar rs). Era uma região bem central de Copenhagen, mas estava super tranquilo. Sexta-feira, chuvinha, poucos carros trafegando... Nada parecido com o Rio ou SP, cidades que, debaixo de chuva proporcionam o caos no trânsito.
Estava indo a esmo, só olhando ao redor. Passei por um café chamado Munich, e decidi parar (tinha a ver também com o fato da chuva ter apertado um pouco). O local era bem legal, tinha uma decoração baseada em tons bem escuros, o que dava um clima de penumbra mesmo durante o dia (e criava uma atmosfera propensa à discrição – imagino que seja “o” lugar de dar “perdidos” ou “balões” ou simplesmente “infidelidades” de lá rs).
Quando entrei peguei um cardápio. Ainda não tinha comido nada, achei que fosse bom pra tomar um café da manhã. Obviamente, estava tudo em dinamarquês. Fui pedir ajuda a uma garçonete para me explicar o que estava escrito (vi pelo tom de sua pele que ela também não era de origem dinamarquesa). Ela então me questionou o que seria uma das melhores perguntas de toda a minha viagem: “você tem dificuldade para ler dinamarquês?” SIM! EU E 95% DO PLANETA! Quem lê dinamarquês, a não ser os dinamarqueses? (e, com muita boa vontade, os suecos e noruegueses) rs Ela me explicou item por item do menu, e eu resolvi pedir um chai latte (gosto muito, e o deles vinha com um pouco de chocolate) e um croissant com recheio de queijo Emmental (também conhecido como “suíço”). Estava tudo muito bom, exceto pelo preço. A Dinamarca é um dos países mais caros que eu estive. Os preços superam facilmente a Inglaterra (Espanha e Portugal nem vou comentar – são bem mais baratos).
Depois do café, voltei para o aguaceiro da rua – até que neste momento a chuva tinha dado uma brecha – e continuei pedalando em linha reta, observando os prédios geralmente com baixa altura e com um aspecto muito típico. Outra das minhas atribuições era passar num mercado para comprar morangos. No primeiro dia, eu comi alguns morangos com Sara e Giulia e eles eram inacreditáveis. Muito diferentes dos que temos no Brasil, tanto em tamanho quanto em textura e sabor. Começou a chover forte de novo e eu decidi acelerar esse processo. Parei no primeiro mercado que vi, mas não achei os morangos lá essas coisas. Daí decidi dar uma andada pelo mercado, e eis que eu vejo uma carne embalada a vácuo, com um nome estranhíssimo em dinamarquês. Olhei o corte, o formato, e pensei: eu conheço isso. É picanha! E era mesmo. Só que com uma capa de gordura bem fininha (isso é típico na Europa, eles não vendem carne “gorda”). Comprei a carne, um pacote de sal grosso - que lá também é diferente, mas que no fim deu certo - e voltei para a casa. Chovia bastante nesse momento.
Pouco tempo depois de chegar, Sara também apareceu voltando do trabalho. Ela fazia o percurso todos os dias de bicicleta, independente das condições climáticas. Chamei-a para ir à cozinha e apontei para a pia, perguntando se ela sabia do que se tratava. Ela disse que era uma carne. E eu falei: É picanha! Lembra? Os olhos dela brilharam!rs Combinamos de fazer o almoço um pouco mais tarde, por volta de 18hs, pois ela tinha que resolver outras coisas. Nesse momento o tempo mudou completamente e chegou até a sair um certo sol! Eu então decidi voltar à rua para aproveitar um pouco mais do dia. Fui pedalando até a estação de trem, que ficava a uma quadra do Tivoli Park. Dei uma volta, olhei a maior quantidade de bicicletas estacionadas que eu já vi na vida (devia ter cerca de 500, lado a lado) e comi o cachorro quente típico de lá. Não achei nada de mais, diga-se. No caminho passei pelo cinema mais antigo da cidade, que hoje possui a fachada pintada de diversas cores, o que dava um aspecto totalmente lúdico.
Na volta comecei a preparar a picanha. Era uma peça pequena, cerca de 900 gramas. Sara fez arroz e eu complementei com uma farofa de ovos (ela tinha um pacote que uma amiga brasileira tinha lhe dado). Fiz a Picanha de Forno, porque na brasa era impossível. Quando ela começou a comer, poucas vezes vi uma expressão tão grande de felicidade em seu rosto. Acho que era um misto de satisfação pelo sabor da comida e também por matar a saudade de algo típico do Brasil. Depois que voltou do Rio de Janeiro para a Dinamarca, Sara passou um ano em Moçambique antes de assentar de vez em Copenhagen. Ela sentia falta dessa pluralidade de sabores que tinha experimentado. Para vocês terem uma ideia, não sobrou nada da picanha! E eu acho que não cheguei a comer nem a metade.rs
Depois do almoço/jantar, descansamos pois à noite haveria um show do Patchanka!, uma banda dinamarquesa que estava começando a fazer sucesso por lá (abriram um show do Manu Chao em Copenhagen). Não faço a menor ideia da região da cidade onde estava ocorrendo o show. Fomos de bicicleta, e paramos num galpão. Quando entramos estava bem vazio – tínhamos chegado cedo. Era um galpão bem simples (parecia com algumas casas da Lapa). Quando o show começou já estava bem cheio. O som dos caras era um misto de ska com música cigana (leste europeu talvez). Era bom, mas um pouco repetitivo. Mas isso dito por um cara que não é fã de ska. O resto das pessoas parecia estar curtindo bastante.
Rolou um episódio curioso no show: Estávamos eu, Sara e Emannuela. A Giulia tentou nos encontrar, mas não conseguiu entrar pois estava lotado. Quando Sara me disse isso – Giulia havia ligado pra ela – eu fiquei espantado. Estava longe de estar cheio. Tinha bastante gente sim, mas como todos se aproximaram do palco, havia pouco menos da metade liberado. Sara me explicou que depois do festival de Roskilde, quando 9 pessoas morreram esmagadas durante show do Pearl Jam, a fiscalização e cuidado com a quantidade de pessoas em eventos ficou extremamente rigorosa.
Ao final, partimos então para encontrar a Giulia, que estava numa festa argentina (!) num local muito underground. Tipo, muito underground! O clima era bem estranho, eu não curti. Ficamos por cerca de 15 minutos e fomos embora. Nesse dia eu senti uma coisa não muito legal, uma espécie de racismo às avessas (não foi intencional, obviamente – apenas uma sensação). No show do Patchanka! já tinha sentido isso. Me dei conta que estava num local com predominância de pessoas loiras. Pele e cabelo muito claros, e todos bastante altos. Tenho certeza que a maioria das pessoas são boas, até mesmo pró-causas sociais e de integração (eu mesmo conheci algumas lá), mas ao olhar todo aquele cenário remeti imediatamente ao nazismo, principalmente quando via caras muito fortes com cabelo bem curto. Provavelmente por influência de tantos filmes/documentários que acabaram criando uma sensação vinculada àquela imagem. Foi uma grande forma de perceber que esses sentimentos tem que ser erradicados, que ninguém está imune a eles e que a simples convivência faz você perceber que somos basicamente iguais. Essa sensação passou rápido, ainda bem.
Saindo do umbral dinamarquês (rs) demos uma volta pela cidade, paramos pra comer algo numa lanchonete que todos elogiaram mas que não achei nada demais. Dai voltamos pra casa... era por volta de duas da manhã. O dia seguinte tinha algumas programações interessantes!
Na foto: o estacionamento de bicicletas da estação ferroviária.

domingo, 30 de setembro de 2012

Sol no canal!


Depois de um primeiro dia bem morno em Copenhagen, a quinta-feira começou com força total! O sol finalmente deixou de ser aquela luz de geladeira que eu tinha me acostumado em Londres e fez bastante calor. A Sara tinha ido ao trabalho (chegaria em casa por volta das 16:30, e tínhamos marcado de nos encontrar quando ela voltasse).  Desci as escadas do prédio que rangia com qualquer movimento (tudo era de compensado, e dava para escutar todas as conversas). No percurso até o térreo, percebi um hábito curioso dos dinamarqueses. Todos eles tiram os sapatos/tênis/chinelos e deixam na porta de casa. Só andam dentro dos apartamentos descalços (Sarita havia me dito isso na noite anterior, mas eu não tinha reparado o outros apartamentos).
Peguei a bicicleta e parti para dar uma volta pela cidade. Sara mora numa região bem central, na ponta da avenida Hans Christian Andersen (se você não sabe quem é, vale a pena dar uma pesquisada no Google - escritor de livros infantis). Nesse dia estava um calor quase de Brasil! A diferença é que sempre tem um ventinho ameno rolando para deixar mais fresco. Mas parti de bike indo em linha reta para facilitar e depois saber voltar. A cidade é bem bonita e tranquila. O centro mais calmo de uma capital que eu já vi na vida. Cheguei até uma ponte que atravessa um dos vários canais que passam por dentro da cidade. Nesse aspecto Copenhagen mais uma vez lembra Amsterdam. Decidi virar e descer pela beira do canal. Fui fazendo o percurso até que vi uma galera num gramado pegando sol... mulheres de biquíni, e parei também!rs
A cena era muito engraçada. Tinha um deck onde muitos ficavam caminhando, como se fosse um calçadão. E vários mergulhavam no canal (passavam vários barcos, alguns estilo “Barca”, mas menores, só que todos eles juravam que a água é limpíssima). Nesse momento, pensei “ah, que mal há?“. Estava de bermuda, deitei no deck e fiquei lá pegando um sol também. Só não mergulhei pois a água é a muito, mas muito gelada! Nesse momento aconteceu uma das cenas mais engraçadas de toda a trip. Vi três meninas chegarem, tirarem um bote de uma caixa e começar a enchê-lo com uma bomba daquelas de encher colchão inflável. Após muito esforço, as três entraram na água dentro dele, ficaram uns cinco minutos e voltaram. Precisava encher mais. Retornaram para a água e ficaram lá, com barca passando quase do lado, lancha do outro, e elas no meio de tudo. Sensacional! Quando saíram da água, fui trocar uma ideia com elas e foi ótimo! Estavam se divertindo muito! Tipo, muito!rs
De lá voltei para a casa pois Sara iria sair do trabalho e tínhamos que nos encontrar. Quando cheguei, não deu nem cinco minutos e ela apareceu. Marcamos uma meia hora e partimos para encontrar a Amina, que era uma amiga de infância da Sara que tinha estado no Brasil no período em que ela morou por aqui. Passamos os três o ano novo de 2009/2010 juntos! Épico!
Pegamos nossas bicicletas e partimos para uma região da cidade que eu não lembro o nome (eu não lembro os nomes de quase tudo lá, pois a língua é extremamente complicada). Estava rolando uma festa numa área aberta, parecida com um pátio. Montaram um som, tinha um DJ e cerveja. E o melhor: de graça! Ficamos lá por um tempo com mais duas amigas da Sara (Giulia e sua irmã, que não lembro o nome). Quando era por volta de umas 20hs partimos de volta para o centro. Vale lembrar que o sol estava rolando bem nesse momento. Mas como já era o fim da tarde, o friozinho começava a chegar (um casaco resolveu sem problemas). Fomos pedalando ate pararmos em frente a um hostel muito legal. A parte do térreo era toda aberta, parecendo um bar. E lá ficavam hóspedes e pessoas locais, todos misturados. Estava passando algum jogo da Eurocopa (acho que era Portugal x Rep. Checa). Entramos num bar ao lado onde tinha um show de blues, mas não estava bom. Sem contar que era permitido fumar dentro do PUB (?!). Não fiquei nem cinco minutos e saí, irritado e fedendo a cigarro. Paramos no hostel e começamos a conversar com um grupo de americanos. Junto deles tinha uma brasileira de Minas Gerais que mora em Nova Iorque, e todos passamos um bom tempo por lá. Para mim esse é o princípio básico de uma viagem. Sair e conversar/conhecer o máximo de estranhos que você puder.
Estava começando a anoitecer (22hs), e demos uma caminhada até uma praça central, um grande paço onde ficava o Tribunal de Justiça. Lá, estava montada uma exposição de fotos com a história política da Dinamarca moderna. Tudo no meio da rua. Nesse momento fiquei muito feliz da Amina estar lá. Ela é filha de um dinamarquês com uma árabe, e é muito politizada e ativista de diversas causas. Ela ficou ao meu lado explicando quem era quem em cada uma das fotos, e principalmente, qual o contexto político de cada uma das situações retratadas. Ela ficava perguntando se estava entediante, e eu dizia “pelo amor de Deus, continue!!!”rs.
Às 22:30 anoiteceu, mas não completamente. Em Copenhagen, no verão, não fica completamente escuro. Sabe quando está quase noite, tipo 17:40, 17:45 aqui no Brasil? Escurece até esse ponto, e às três da manhã amanhece. Louco!
Decidimos voltar pois Sara trabalhava no dia seguinte. Parei naquela lanchonete com donos árabes em frente à sua casa e comi um a pizza. Satisfatório. A comida dinamarquesa não me apetecia em nada. Basicamente porco e batata. Não esqueço de um comentário da Amina: “temos 6 milhões de habitantes e 25 milhões de porcos. Mas a gente exporta. Os porcos.”

Nas fotos: o canal visto da ponte, o deck, as meninas no bote, Sara e Amina numa ruela do centro e o paço onde havia a exposição.







domingo, 16 de setembro de 2012

Indgang - Kobenhavn


Depois de uma despedida simples e sincera (como deveria ser tudo na vida), acordei na quarta 20/6 com a cabeça num lugar que para mim teria um significado muito especial: Copenhagen! Tudo nesta viagem era novidade, mas o país nórdico seria o mais distante da nossa cultura que eu veria. Estava bem animado.
Despertei em Londres por volta de 10hs, dessa vez não fiz os exercícios e fui pro aeroporto. O vôo estava marcado para as 14:30, e eu não iria partir de Heathrow, mas de Gatwick, o segundo principal aeroporto da Inglaterra (não haveria a facilidade do metrô para chegar até lá). Gatwick fica a 48km de Londres. Há uma linha de trem que faz o percurso, mas parte da estação Victoria, que ficava um pouco longe da casa da Cami e era muito movimentada! Na noite anterior eu e Cami tínhamos visto que há uma van da própria EasyJet (companhia aérea que eu voaria) que saía do Hotel Ibis ao lado da estação de metrô Earl’s Court. Era muito próximo e facílimo de chegar.
Peguei o tube, cheguei em Earl’s Court e fui pra rua. Nesse dia senti um pouco de raiva... Finalmente o sol apareceu e bem! Devia estar fazendo quase 30 graus, e eu estava indo embora!rs Mas tudo bem.
Cheguei defronte ao hotel e a van já estava lá. Me informei com o funcionário que foi muito atencioso e embarquei rumo ao aeroporto. Custava 10 libras. Achei um pouco caro, mas para o padrão de lá não é muito. O trajeto levou cerca de 1 hora e passei basicamente por uma autoestrada sem grandes paisagens. O campo inglês não difere muito do campo brasileiro... só faz menos sol!
Quando chegamos ao aeroporto, mais uma vez a sensação de incredulidade. Era muito melhor que o aeroporto do Galeão, e ficava no meio do nada! As rotinas funcionavam de maneira mais prática, a locomoção era extremamente fácil, e tinha muitas lojas e opções. Fiz o check in, resolvi comer algo enquanto aguardava o embarque (um cheeseburger muito bom), e me dirigi até o avião.
Todas as minhas passagens aéreas dentro da Europa foram por empresas low cost. Essas empresas tem tarifas muito mais baixas que o comum e não oferecem serviço de bordo ou outras facilidades, por exemplo. Na verdade, até há serviço de bordo, só que é cobrado à parte e pago no próprio voo, em cartão ou dinheiro. Em absolutamente TODOS os voos que peguei foi assim. E detalhe: sempre lotados. Achei um tapa na cara de todo mundo no Brasil que reclama que “tal companhia é uma pobreza, não servem nada”. O grande problema aqui é que as tarifas de uma GOL, por exemplo, que tem reconhecidamente um serviço de bordo nulo são mais caras do que deveriam para o que se oferece. Mas aí é outra história, de tributação e condições de mercado. Não vou entrar nisso por aqui.rs
Embarquei pelo portão 97 (!) e dormi praticamente todo o voo (cerca de 1h e meia). Ao chegar em Kobenhavn (Copenhagen em dinamarquês), mais uma situação curiosa, dessa vez na fila do passaporte. Diferente da Inglaterra, na Dinamarca eles não separam cidadãos com passaporte europeu do restante. Lá a separação é feita entre dinamarqueses e quaisquer outros. O que fez com que eu aguardasse na fila junto aos ingleses e demais.  
Quando chegou minha vez, o funcionário fez um sinal para que eu me aproximasse com um sorriso enorme no rosto. Provavelmente pensava que eu era europeu (para quem não me conhece, sou bem branco e tenho olhos claros, nenhuma aparência de brasileiro rs). No momento em que ele pegou meu passaporte e viu “Brasil”, seu sorriso se transformou automaticamente numa cara fechada!rs Foi nítido e instantâneo. Ele então me perguntou o que eu queria na Dinamarca. Eu respondi: “visitar uma amiga”. “Quantos dias você fica aqui?” ”Cinco.” “E depois vai para onde?” “Barcelona”. Neste instante ele fez uma cara de “ah, tá bom então!” e carimbou meu passaporte. Provavelmente ficou tranquilo com o fato de eu já ter um carimbo da imigração inglesa. Depois a Sara me disse que se eu fosse negro, dificilmente teria sido tão fácil. Iriam me pedir documentação para comprovar tudo o que estava dizendo. Triste, mas eu sei que é verdade.
Passei pela imigração e fui ao desembarque. Lá estava ela, Sarita, minha girafa preferida! Sara é uma italiana que eu conheci no Rio em 2009 na Lapa. Ela e sua irmã estavam curtindo um samba no meio da rua e eu cheguei cheio de boas intenções na Noemi (a irmã). Noemi ficou dois meses no Rio e Sara um ano. Nem precisa dizer que ficamos muito amigos! Sarita tem minha altura (1,82m) e cabelos e olhos negros.
Ela estava muito feliz! Depois me disse que nunca esperaria que um dia eu fosse até Copenhagen visitá-la, por conta da distância e por ser muito fora de rota para quem vai à Europa. Pegamos o metrô (em Copenhagen também há uma estação dentro do aeroporto) e partimos. O metrô lá é muito menor e menos movimentado que na Inglaterra, por várias razões.
Copenhagen é uma cidade de aproximadamente 1,5 milhão de habitantes, territorialmente pequena e onde 40% das pessoas fazem tudo de bicicleta. Isso é uma coisa incrível e a única cidade com estas características na Europa é Amsterdam (depois me disseram que as duas cidades são extremamente parecidas). Quando desembarcamos na região central, troquei o dinheiro (lá não é Euro, mas Coroa Dinamarquesa) e fomos pegar a bicicleta que a Sara já tinha arranjado pra ficar comigo nos dias em que estaria por lá.
Copenhagen é bem bonita, com uma arquitetura toda peculiar e prédios baixos. Nesse primeiro dia não deu pra ver muita coisa, mas a gente passou num lago artificial onde todos param para conversar e pegar sol (artigo de luxo por lá). Depois fomos até uma lanchonete árabe comer um falafel. Não sou tão fã assim, mas encarei. Basicamente, é um sanduíche no pão sírio. E com MUITA pimenta. Aqui em Copenhagen tive alguns problemas com comida, mas isso fica para mais tarde. Já estava começando a anoitecer (eram quase 23hs, aqui anoitece mais tarde que em Londres!rs) e eu estava bastante cansado. Um pouco antes de chegar na casa da Sara – um apto num prédio bem antigo, com todos os pisos de madeira – paramos para comer um cheeseburger numa lanchonete cheia de árabes que quando descobriram que eu era do Brasil ficaram muito felizes falando sobre futebol e sobre o quanto a comida árabe é popular por aqui (um deles já tinha visitado o Brasil). Era hora de descansar!
Nas fotos: o lago artificial e pessoas aproveitando o sol na ponte que cruza o lago.


domingo, 9 de setembro de 2012

Meu amor. O que você faria?



Aquele que seria o último dia que eu aproveitaria por inteiro na minha primeira passagem por Londres foi um misto de vários sentimentos.  Ao mesmo tempo em que Londres tinha sido algo fantástico e completamente diferente de tudo que eu já tinha experimentado na vida, eu ainda tinha bastante coisa pela frente. Ao invés de ter um dia mais leve, resolvi aproveitar by myself.
Nesse dia comecei mais uma vez com os exercícios. Vale destacar que a essa altura eu já estava acordando bem tarde. Por volta de 10/11hs. Culpa do fim de semana!rs Mas levantei-me e quando era quase meio-dia estava na rua. Peguei o tube até Camden Town de novo, dessa vez para ver o street market.
O street market, ao contrário do que possa parecer, não é algo tão popular assim. É mais “alternativo”, você encontra peças quase artesanais, de fabricação única, mas os preços ficam na média do resto da cidade. Eu penso que originalmente era apenas um, mas hoje existem pelo menos três galpões inteiramente ocupados pelas barracas (com um aspecto de camelódromo). Apesar de venderem de tudo – livros, incensos, artesanatos, instrumentos musicais e muito mais – a grande maioria dos stands vendem peças de vestuário. Camisetas, vestidos, sapatos e cuturnos completamente estilizados. Alguns com cara de brechó. Achei bem interessante, dei uma volta ao redor e aproveitei para almoçar por lá mesmo. O market fica localizado em cima de um rio, e nas margens dele existem várias lojinhas com refeições “prontas”. Eis que avisto uma com a bandeira do Brasil. Quando cheguei, era um catarinense o dono, e eu tive um ótimo arroz-feijão-bife-farofa por 4,00 libras. Achei bem honesto.
Fiquei por lá umas duas horas... e ainda passei num restaurante chamado Made in Brazil (sei o que você vai pensar: que panaca! Foi pra Londres ver coisas do Brasil. Ok, nesse dia me bateu um pouco de homesick). Lá eu tomei um açaí na tigela (7,00 pounds), que eu achei ok, nada demais. A dona é uma inglesa e a equipe basicamente composta por brasileiros.
De lá, fui até outro major spot: o Hyde Park. Fica na região central de Londres, bem perto do Marble Arch (um grande arco monumento feito em mármore). Local muito famoso pelos festivais e eventos que tem o parque como cenário. É um local lindo, cheio de gente praticando esportes, passeando, casais sentados nos gramados e várias outras coisas. Rola até um caminho em homenagem à Princesa Diana, com placas no chão indicando seu trajeto. Nesse dia fazia um belo solzinho, bastante agradável. Tirei a camisa e estendi no gramado. Fiquei lá deitado por algum tempo, aproveitando aquele clima de relaxamento. Viver como um londrino não é nada mal.
Informação adicional: eu era a única pessoa sem camisa no parque. Ninguém fica sem camisa lá (nem no resto da Europa... só na praia).
Levantei e fui andando pelo parque, até que cheguei numa região toda gramada e aberta que tinha várias pessoas jogando futebol. Me bateu aquela vontade, dei uma olhada ao redor e encontrei um grupo que tinha um número ímpar de jogadores. Fui até lá e pedi pra jogar, no que eles me atenderam. Sensacional!
Era um grupo basicamente de árabes, mas não consegui precisar qual país. Tinha um italiano, um escocês e o resto árabes ou do norte da África. Alguns jogavam bem – nada de espetacular – e tinha até um com o uniforme completo da seleção brasileira (do Daniel Alves). Achei melhor não dizer de onde era, pois eles poderiam ficar decepcionados.rs Eu era o único de calça jeans e all star, mas tudo bem. Fui para um time que com o decorrer percebi que era um pouco mais fraco, mas fomos equilibrando o jogo. À medida que a partida ia ficando igual, eles aliviavam cada vez menos. Eu recebi pelo menos umas três faltas bem fortes (incluindo um chute no joelho e um pisão por trás rs). Mas tranquilo, já tinha jogado com estrangeiros antes e para eles isso é normal, ninguém reclama. Eu tirei a camisa de novo pois estava com calor (o que fez eles gritarem “He’s on fire!”rs) e no fim acho que perdemos por um gol. Mas foi legal. Eles me perguntaram de onde eu era e eu falei: Brasil. Me convidaram para jogar com eles de novo na semana seguinte e eu expliquei que estava indo embora, mas agradeci.
Nesse momento rolou um episódio completamente inusitado: como eu estava com muito calor, fui embora andando pelo parque sem camisa, e nem lembrei que isso era incomum. Fui reparando que eu era, verdadeiramente, a ÚNICA pessoa sem camisa lá. Todos me olhando. Mas eu nem me importei. Estava com calor mesmo e que se dane!(mentira, isso durou uns cinco minutos e eu a vesti de novo – achei que pudesse ser preso rs).
Fui então para South Kensington encontrar a Cami. Devia ser por volta de 18hs e ela tinha acabado de sair do trabalho. Ela comeu uma salada e partimos pro Soho pois tínhamos marcado um jantar de despedida. Pegamos o tube e descemos em Picadilly. Caminhamos por Leicester Square, por Chinatown até chegar no miolo do Soho. Essa era a região mais cool na Londres dos anos 60. Algumas coisas tem aspecto bem envelhecido, e rolam uns becos e vielas com o melhor e o pior da área central. Fomos andando a esmo (sempre fazíamos isso rs) até que vimos uma casa de sucos bem legal, e que usava frutas de verdade! Eu pedi um de manga com maracujá e côco e a Cami mamão, laranja e raspberry. Estava muito bom. Ficamos por lá, papeando, tentando entender o quanto aquela experiência toda de vivenciar uma cidade como a capital inglesa faz você enxergar as coisas de uma maneira diferente (Cami teve a mesma epifania quando esteve lá pela primeira vez). Quando percebemos, era 22:30 e decidimos voltar pra casa. Chegava ao fim uma das maiores histórias de amor por uma cidade que eu já tive na vida. Mas eu ainda iria voltar a Londres.

Nas fotos: O Marble Arch, o caminho da Princesa Diana, escultura no Hyde Park e detalhe do gramado.